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Envelhecer com saúde é cuidar dos rins

| Notícias locais

Dia 10 de março é o Dia Mundial do Rim e a data foi criada para chamar a atenção sobre a importância do bom funcionamento desses órgãos para se manter e prolongar a vida. A saúde renal ainda é pouco conhecida pela maior parte da população e milhares de pessoas ao redor do mundo morrem por problemas que se iniciam com o mau funcionamento dos rins e que culminam, por exemplo, em derrame cerebral ou infarto. A saúde do rim então é tão importante quanto a do coração, mas muitas pessoas ainda não sabem disso.

E um grande problema é que a doença renal é silenciosa, nem sempre aparecem sintomas e a doença vai progredindo até os rins pararem completamente de exercer suas funções principais, que são filtrar substâncias nocivas do sangue que fazem mal ao organismo, retirar excessos de líquidos e equilibrar a pressão arterial, produzir os hormônios que protegem os ossos e participar da produção de glóbulos vermelhos, que evitam a anemia.

Muitas pessoas ainda conseguem controlar o problema com remédios, mas algumas atingem a etapa final da doença. Estima-se que cerca de 10% da população mundial tenha algum problema renal, com o rim filtrando menos do que o normal. A prevalência é de 7,2% para indivíduos acima de 30 anos e 28% a 46% em indivíduos acima de 64 anos. Mas apenas 0,001% dessas pessoas chegam a descobrir a tempo de iniciar um tratamento com diálise, que é feita na etapa mais avançada da doença renal crônica e ou também o transplante. De 2005 a 2021, o número de pacientes em diálise no Brasil mais que dobrou, passando de 65 mil para 144 mil, segundo o censo realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

A nefrologista Lecticia Jorge Barbosa, gerente médica da Fresenius Medical Care - empresa líder mundial em produtos e serviços para pessoas com doenças renais, explica o cenário atual. “Estamos numa constante luta para conscientizar as pessoas, os médicos em geral, e os governos da importância da saúde renal. No momento, com aumento do envelhecimento da população e do sedentarismo, má alimentação e doenças crônicas como o diabetes e hipertensão arterial, existe um temor em faltar tratamento a todos os que precisarem”, diz.

De acordo com a médica, é possível tentar retardar o envelhecimento natural dos rins com atitudes simples, como se alimentar adequadamente, ingerindo alimentos que contenham pouco sal, açúcar e gorduras, beber líquidos na medida certa, jamais tomar medicamentos, como os anti-inflamatórios ou anabolizantes sem o devido acompanhamento médico, e evitar o álcool e o cigarro. “E como a pressão alta também é uma das principais causadoras dos problemas renais, recomendamos a prática regular de exercícios físicos e atividades de lazer, que vão auxiliar a manter o peso adequado e evitar o estresse da vida moderna. Evitar a diabetes ou controlar rigorosamente a doença também são primordiais”, acrescenta.

Todas as pessoas devem prevenir a doença renal, mas algumas precisam fazer os exames que indicam se a função renal está em dia com mais frequência, ao menos uma vez por ano. “São os portadores de diabetes, hipertensão arterial, idosos, obesos, cardíacos, pessoas com doença renal crônica na família e fumantes. As pessoas que fazem uso de agentes nefrotóxicos, como o iodo, presente no contraste de exames e que estão ingerindo medicamentos também devem receber cuidados especiais, como aumentar a ingestão de líquidos. É recomendado que os médicos procurem conhecer a saúde renal dos pacientes para prescrever a dose individualizada de remédios e até mesmo evitar passar vários remédios ao mesmo tempo, que podem prejudicar os rins. Se ao menos as pessoas que possuem algum risco controlassem a doença corretamente e seguissem todas as recomendações médicas, já teríamos muito menos doentes renais e óbitos precoces também”.

De acordo com a médica, os médicos devem analisar fatores de risco como idade, sexo, a presença de doenças crônicas, incluindo a doença renal prévia, doenças cardiovasculares, hepáticas, intestinais, desidratação e doenças metabólicas, como o diabetes, para prescrever medicamentos.

“Anti inflamatórios, analgésicos, antibióticos, antidepressivos, anti hipertensivos, antivirais, antifúngicos, imunossupressores e antiácidos são os remédios que mais trazem riscos aos rins. Por isso que se medicar sozinho é sempre perigoso e todo problema deve ser considerado pelo médico”, esclarece.


A medica ressalta que hoje a população se expõe a vários fatores simultâneos que podem trazer prejuízos aos rins. “As pessoas estão consumindo muito sal, sobretudo com alimentos industrializados, que contém sal como conservantes, outros contém muito açúcar e gorduras. Elas bebem pouca água, tomam muitas bebidas prontas açucaradas, fazem muito uso de bebidas alcoólicas, tomam medicamentos à vontade e não praticam atividades físicas, além de viverem constantemente sob o estresse. Tudo isso prejudica a longevidade delas”.

Outras doenças - A diminuição lenta e progressiva das funções dos rins pode levar de meses a anos, e também pode ser provocada por nefrite, que é um tipo de inflamação dos rins, cistos hereditários, doenças de vias urinárias que obstruem os rins e doenças congênitas. Nesses casos, podem aparecer até mesmo desde o nascimento.

Sintomas - Alguns sinais podem indicar a presença de um problema renal. São eles: urinar mais de duas vezes à noite e também urinar pouco, cor da urina escura, presença de espuma e ou de sangue na urina, inchaço nos olhos, tornozelos e pés, principalmente pela manhã, fraqueza, perda do apetite, falta de ar, aumento da pressão arterial, náuseas e vômitos. Mas esses sinais podem ser também por outras doenças e quem pode dar o diagnóstico é o médico ao fazer os exames específicos, descobrindo inclusive, em que fase a doença está.

Tratamentos – Muitos pacientes passam anos tomando remédios e controlando a alimentação. Mas se atingirem a etapa final, chamada de fase terminal, o portador de doença renal pode ter que fazer terapias que substituem o trabalho realizado pelos rins e que podem prolongar a vida.

Na diálise convencional, o sangue do paciente é filtrado fora do corpo, numa máquina, de duas a quatro horas seguidas, entre três a seis vezes por semana. Um tipo de diálise que vem crescendo no Brasil é a Hemodiafiltração online, que filtra as toxinas maiores. A modalidade entrou no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS) há um ano e vem trazendo diversas melhorias de saúde para os usuários, sobretudo crianças, cardíacos graves e pacientes com dificuldade de controlar fósforo e potássio na hemodiálise.

Outra opção de terapia é a diálise peritoneal, em que o paciente tem o sangue filtrado dentro do próprio corpo. Outras pessoas conseguem também fazer o transplante, recebendo um rim doado por pessoas vivas ou que tenham sofrido morte cerebral. Algumas pessoas já vivem 30 anos após a falência renal definitiva. Mas sem ela, o paciente renal morre.

“Não há cura para a doença renal crônica. A progressão da doença é lenta, permitindo que o organismo se adapte a perda da função renal e, em muitos casos, os sintomas só acontecem em um estágio avançado, portanto, a melhor estratégia é a prevenção. Exames simples de laboratório, como a dosagem de creatinina e urina, além de uma ecografia dos rins são suficientes. Feito o diagnóstico, é importante o acompanhamento com o nefrologista, que é o médico especialista em doenças renais. E o tratamento a ser definido depende de uma série de fatores, inclusive da doença de base que acometeu os rins. Nós lutamos para que as pessoas se previnam, sobretudo em cidades do interior, porque a doença atinge muito as populações mais pobres e nem sempre elas podem contar com o SUS para conseguir o tratamento”, finaliza.

Conheça a história de pacientes renais

A coordenadora de call center Laiana Arcoverde, 40 anos, de São Paulo, descobriu a doença renal após diversas crises que a deixaram extremamente estressada. “A primeira vez que soube da minha creatina alta foi após uma depressão que tive ao perder meu marido e três meses depois, o meu pai. Mas naquela época fiz o exame de creatinina mas não levei a sério a informação de que o meu rim já podia estar funcionando mal e deixei pra lá. Uns tempos depois, no início da pandemia de Covid, fiquei muito sobrecarregada no trabalho, com vários colegas afastados e tive crise de hipertensão. Na família, havia diversos hipertensos. Aí vieram os inchaços, mesmo assim demorei a procurar o médico. Foi quando descobri que meus rins estavam à beira da falência, totalmente reduzido, e que eu precisava fazer a diálise. Foi um impacto muito grande na minha vida. Espero um dia ao menos conseguir fazer um transplante”, revela.

Já o aposentado mineiro Geraldo Magela Mota Coelho, tinha 71 anos quando de repente sofreu uma crise de náuseas e vômitos. Algum tempo antes havia descoberto a diabetes. “Ao saber que teria que fazer a hemodiálise me senti derrotado, mas logo depois entendi que seria o tratamento que me daria mais dias de vida que poderiam me restar. Iniciei uma nova e perfeita fase de vida, com muito apoio. Eu temia agulhas, o maior suplício era imaginar que aqueles procedimentos quase diários. Não foi fácil, para mim, aceitar aquela nova realidade, de uma rotina e de uma dependência que para mim eram inimagináveis, mas me convenci de que era urgente e necessário que eu com elas me conformasse e me adaptasse. Hoje, essa dorzinha já se transformou como um momento sagrado, quase que agradável, que me faz pensar em amor”.