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Como vão os seus rins?

Na natureza, os seres vivos dependem do meio ambiente que os rodeia. Também no corpo humano, todas as células dependem do meio interno que as envolve e cuja composição depende fundamentalmente dos rins. A ciência que estuda o meio ambiente, e a relação dos seres com este meio, é a Ecologia  (Eco, derivado do grego Oikos, significa casa). Na medicina, a especialidade que estuda as alterações do meio interno e o principal órgão que regula este meio, o rim, se chama Nefrologia  (Nefro, também derivado do grego, significa rim). Dia 14 de Março foi celebrado o Dia Mundial do Rim, uma data que serviu como um alerta para um órgão tão vital e muitas vezes tão negligenciado. Por ser silenciosa, a Doença Renal Crônica, quando descoberta, já apresenta um grave comprometimento dos rins e, portanto, da saúde do paciente.

Normalmente, os rins são órgãos duplos, pesam em conjunto cerca de 300 gramas, menos de 0,5 % do peso de um adulto. Porém, recebem cerca de 25% de todo o fluxo sanguíneo do organismo para manter a composição adequada do meio interno. Fazem isso basicamente eliminando resíduos inúteis ou tóxicos produzidos pelo metabolismo normal das células de diferentes tecidos e órgãos, bem como aqueles resíduos provenientes da ingestão de alimentos e outros produtos, como medicamentos. Além da função de manter o equilíbrio do meio interno e eliminar toxinas, os rins produzem a Eritropoietina, hormônio que provoca estímulo para a produção de glóbulos vermelhos pela medula óssea e, portanto, essencial para evitar a anemia; interferem na regulação da pressão arterial e ativam a vitamina D, substância fundamental para termos ossos saudáveis.

Cerca de 10 a 20% da população apresenta risco para a doença renal ou já alguma alteração dos rins. Isso porque inúmeras enfermidades e fatores frequentemente comprometem a função deste órgão. Os principais exemplos são as doenças metabólicas, como o diabetes e a obesidade; as alterações na circulação renal como a hipertensão arterial e a arteriosclerose entre outras.

A prevenção das doenças renais tem a ver com evitar e controlar várias doenças comuns. Para isso, valem os cuidados gerais para uma boa saúde como: dieta balanceada, evitando excessos e açúcar e sal, o hábito de fazer exercícios físicos e não fumar, e a rotina periódica de aferição da pressão arterial e a medida de glicose no sangue. Também é importante o tratamento adequado de episódios de infecção urinária, bastante comuns nas mulheres, principalmente em idade gestacional, e o tratamento e a prevenção de cálculos renais. É fundamental também evitar o uso inadequado, ou seja, sem prescrição médica, de medicamentos com potencial nefrotóxico, como remédios para dor, anti-inflamatórios e antibióticos.

A função renal pode ser avaliada pelo exame simples da composição da urina, denominado de Elementos Anormais e Sedimento (EAS) e pela dosagem da creatinina no sangue. O nível da creatinina normal é de 1 mg/dl e o exame de urina deve estar dentro dos parâmetros de normalidade para presença de células, proteínas, glicose entre outros.

Quando os rins adoecem ocorre um desarranjo progressivo de todo o corpo. Na fase avançada, sobrevém uma intoxicação grave denominada de uremia, que é fatal se não tratada adequadamente. O tratamento nesta fase implica em remover periodicamente as toxinas acumuladas através da diálise, corrigir as alterações hormonais com medicações como a Eritropoietina e a Vitamina D ativa, e, se indicado, encaminhar para o transplante renal. Atualmente cerca de 2 milhões de pacientes no mundo e 100 mil no Brasil precisam de diálise para sobreviver, pois têm doença renal grave.

Só há uma receita para reduzir essa estatística: leve uma vida saudável e saiba como está a saúde de seus rins com a dosagem de creatinina no sangue e exame de urina.

Dr. Frederico Ruzany é nefrologista, um dos pioneiros no tratamento da doença renal crônica no Rio de Janeiro e consultor científico para a Fresenius Medical Care.