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Atenção para os rins

Nas últimas duas décadas, o Brasil viu o número de pacientes com Doença Renal Crônica triplicar. Hoje mais de 120 mil pessoas fazem diálise no país e estima-se que pelo menos 25 mil pacientes morram por ano. As alarmantes estatísticas brasileiras não destoam do resto do mundo. Calcula-se que 850 milhões de pessoas em todo o planeta são acometidas de algum comprometimento renal levando a 2,4 milhões de óbitos por ano, a 11ª causa de morte global e sexta causa-morte de crescimento mais rápido.

Diante dessa epidemia, a sociedade médica internacional resolveu instituir, há 12 anos, o Dia Mundial do Rim, celebrado neste ano em 14 de março, como forma de chamar a atenção para esse órgão tão vital para a saúde e, no entanto, tão esquecido. Além de remover resíduos e fluidos extras do sangue, os rins têm as tarefas de controlar o equilíbrio químico do corpo, ajudar a controlar a pressão sanguínea, manter os ossos saudáveis e produzir o hormônio necessário para os glóbulos vermelhos.

O grande desafio da doença renal é que, em suas fases iniciais, ela é assintomática. Uma pessoa pode perder 90% das suas funções renais sem sentir nada. Somente em estágio avançado é que alguns sintomas costumam aparecer como inchaço nos tornozelos, fadiga, diminuição de apetite, sangue na urina, urina espumosa, entre outros.

A Doença Renal não tem cura, o que faz com que os pacientes necessitem de cuidados vitalícios. Embora a qualidade do tratamento tenha avançado muito nos últimos anos, a terapia ainda não é acessível a todos aqueles que precisam. Neste ano, o Dia Mundial do Rim quer chamar a atenção para as desigualdades no tratamento da doença renal, com a campanha “Saúde do rim para todos, em todos os lugares”.

Como a prevalência da doença renal está aumentando drasticamente, o custo de tratamento dessa epidemia crescente representa enorme carga nos sistemas de saúde de todo o mundo. Na Inglaterra, o custo do tratamento da doença renal já supera o custo dos cânceres de mama, pulmão, cólon e pele juntos. Na Austrália, o custo de tratar todos os casos atuais e novos até 2020 é de U$ 12 bilhões. Já nos EUA, o tratamento excederá U$ 48 bilhões de dólares por ano.

Países em desenvolvimento não conseguem arcar com todas as despesas de reposição renal da sua população e o resultado é a morte de mais de um milhão de pessoas por ano de insuficiência renal não tratada.

A melhor estratégia para redução de custos é a prevenção. O alerta é para que os países invistam em prevenção e tornem o rastreio de doenças renais um cuidado primário com a saúde, incluindo acesso a exames de sangue (creatinina) e urina (EAS). O diagnóstico e o tratamento precoces podem prevenir e retardar que as doenças renais avancem para estágios graves que necessitam de diálise.

Pessoas com hipertensão e diabetes devem ter atenção especial, já que um quarto de todos os pacientes renais tem hipertensão e um terço tem diabetes. Portanto, se prevenir dessas duas doenças e outras com uma dieta equilibrada e estilo de vida saudável é a melhor forma de cuidar dos rins.

Ana Beatriz Barra é mestre em Nefrologia pela UERJ, especialista em Nefrologia pela SBN e gerente médica da Fresenius Medical Care.